Ação escolar e identidade social: conflitos e possibilidades
Pensar e fazer uma escola pública de qualidade para as classes populares.
Esse tem sido um grande desafio para os educadores comprometidos com uma sociedade democrática. São inúmeros os fatores que tornam esse objetivo mais difícil de ser alcançado, tais como, a desigualdade social, a qualidade de vida da população, entre outros.
O conjunto teórico/prático denominado ignorância muitas vezes não é outra coisa além de conhecimentos construídos a partir de experiências, realidades, objetivos de vida, relações sociais, estruturas de poder, tradições históricas e vivências culturais.
É preciso rever o conceito da palavra “ignorância”. Aquela criança carente, que vive numa comunidade pobre, que fala “errado” pode ser rotulada de ignorante, quando, na verdade, tem um conhecimento próprio criado a partir da comunidade em que vive e esse conhecimento é válido, pois faz parte da vida dessa criança.
A existência de dois “Brasis”.
Um deles rico, legitimado, proprietário dos bens materiais e do conhecimento, consumidor e o outro miserável, excluído, ignorante, silenciado. São realidades divididas, com muito pouco ou nenhum contato. São grupos sociais que partilham o mesmo espaço e tempo, mas que parecem não compartilhar o mesmo mundo.
Culturas Híbridas.
Essa dupla imagem do Brasil, que implica ruptura e isolamento, pode ser substituída pelo cenário uniforme, caracterizado por Canclini (1989) de culturas híbridas, que se guia pela finalidade de construir formas mais democráticas de vida social. A idéia de Culturas híbridas é a de que sejam propostos novos caminhos para o estabelecimento de relações de poder em que a autoridade seja democraticamente compartilhada entre esses dois mundos, que de uma maneira ou outra, estão interligados.
O papel da escola
Com o acesso das classes populares à escola se faz necessário um novo modelo de escola, formulando novas possibilidades. Ou seja, precisamos democratizar isso, para que tanto alunos pobres quanto ricos tenham o mesmo acesso à cultura. É importante rever também os padrões de avaliação, do que é certo ou errado. O que muitas vezes poderia ser interpretado como sucesso escolar, é visto como fracasso, pois o ensino parece estar condicionado a uma única possibilidade de interpretação. Se isso persistir, os alunos que conseguirão “sucesso” escolar serão aqueles que somente armazenam informações ao invés de refletir e opinar sobre elas.
Formação de professores
É importante ressaltar que os professores precisam de auxílio para reavaliar sua dinâmica escolar, é preciso que haja um preparo adequado por parte das universidades e um incentivo por parte do governo. Falta suporte ao professor para que ele consiga atingir plenamente o objetivo de levar conhecimento associado à reflexão e não ao simples repasse de conteúdo.
Não são os níveis educativos que impulsionam os indivíduos para melhores posições laborais, fortalecendo as estruturas de produção e melhorando a distribuição de renda; são as estruturas mundiais de produção que condicionam a dinâmica ocupacional mundial, definindo as relações de trabalho e direcionando o sistema educativo mundial e nacional.
No entanto, a escola é um importante espaço de luta por hegemonia e é importante também para a socialização dos conhecimentos e valores. O interesse pela escola pode ter significados distintos. Para as classes populares, estudar significa conseguir um bom emprego no futuro, já para a classe dominante estudar significa socializar-se. Os altos índices de fracasso escolar evidenciam a incapacidade da escola em alcançar coletivamente resultados satisfatórios, no entanto, apesar disso as crianças continuam tentando aprender e vão à aula enquanto podem, o que revela que a escola é importante para as famílias.
Precisamos deixar claro que tipos de qualidade escolar estamos buscando, para que seja possível a construção de uma escola verdadeiramente conectada às necessidades, desejos e possibilidades das classes populares.
Precisamos de uma sociedade mais solidária, pois o sucesso escolar depende também de formas mais democráticas de vida social. Precisamos ouvir as vozes silenciadas, atentar para a realidade do aluno, pois para que ele obtenha sucesso é preciso abandonar práticas que calam e assumir práticas que ajudam a “falar”, ou seja, precisamos preparar o aluno para saber expressar sua opinião.
O modo como a escola, o professor e o aluno sujeitos do processo ensino/aprendizagem assumem o diálogo entre o saber e o não-saber dentro do movimento de construção de conhecimentos organizados pela escola é um importante articulador do movimento de manutenção/transformação das práticas pedagógicas e, em conseqüência, da produção dos resultados escolares.
A escola não pode impor seus métodos ao professor, assim como este não pode impor seus métodos aos alunos. É necessário que haja um diálogo entre todos para que a melhor prática pedagógica seja selecionada, levando-se em consideração as particularidades de cada turma. Os alunos, sentindo-se mais à vontade, participarão mais efetivamente das aulas e, certamente, terão bons resultados escolares.
Como melhorar a qualidade do ensino?
Compreendendo a realidade, buscando encontrar e entender o que não chegou a ser realizado, as alternativas não escolhidas, os silêncios, o oprimido, o desconhecido, o proibido, as vozes, que por não serem escutadas, parecem ausentes. A teoria nos ajuda a ter interpretações diferentes da realidade. Segundo Morin (1999) ela é um dos fatores que orienta a tradução do real em idéias, nos ajudando a olhar, ver, indagar, interpretar e organizar a realidade.
Texto elaborado a partir da teoria da autora Maria Tereza Esteban
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